A mulher amaldiçoada, pré-venda do meu livro e Nina Simone com melancia
Oi, tudo bem?
Essa é a capa do meu livro de estréia e eu estou em chamas por ela ser pública agora <3
Sabendo que és minha está em pré-venda aqui.

Ilustração de Eva Uviedo
Semana passada testou vários limites da minha existência (drama on) de um jeito que eu esperava mas não sei lidar, acho. Segunda começou um evento em casa - um computador parou - e resultou numa mudança brusca de caminho na convivência familiar e que resultou na pergunta "Mãe, o que você acha que é arte?" no almoço de hoje. Parei a melancia entre o prato e a boca e olhei pra fifis esperando uma resposta. Mordi a melancia quase esquecendo o calor insuportável que fez dela a única escolha viável de refeição.
Preciso pensar.
Fifis sentou ao meu lado e disse que esperaria. Olhei para a televisão desligada enquanto lembrava dos quadros A Morte da Virgem do Caravaggio; A Mulher Amaldiçoada de François Octave Tassaert e do Frankstein de Mary Shelley. Organizei internamente o que essas lembranças queriam me dizer. O que é arte? Não sei. Não sei o que é arte, mas sinto que a arte é o lugar em que existir é possível. Existir de um jeito tão bruto e íntimo e solitário que incomoda. Talvez, talvez mesmo, eu tenha me lembrado dessas três obras por elas serem sombrias e carregadas de significados que, num primeiro momento, conversariam apenas com a morte. Mas são carregadas de desejo, de entendimento, conhecimento, continuidade. Vida.

A Morte da Virgem, Caravaggio. Imagina os palestrinhas nesse velório

A Mulher Amaldiçoada de Tassaert. Que essa maldição caia sobre nós, amém.
Arte tem essa coisa de nos colocar diante do não dito, do que habita o silêncio e é silenciado. Quando a fifis me perguntou sobre arte, entendi que a conversa não era sobre teoria ou preferência, mas sobre existir em algum lugar que permita viver em paz com suas angústias. A minha maior angústia é estar viva. Sempre foi. Nessa semana, ter que lidar com um problema real me deu a oportunidade de colocar a felicidade em suspenso e tratar como outro trabalho. Ser feliz e ser mulher são coisas que exigem demais. A felicidade da mulher raramente tem como trilha sonora Over the Rainbow com ukelelê. Generalizo como proteção. Mas, então, pensei nos livros e nas músicas e nas séries e nos filmes e na necessidade de inventar todas essas vidas pra lidar com o que tem dentro do nosso dentro profundo. Arte é o vestido vermelho da virgem que morre, o vestido laranja da única pessoa que chora, o pé pra cima da mulher amaldiçoada e as mãos dadas atrás de sua cabeça. Arte é escrever um texto que atravessa gerações falando sobre a solidão de estar vivo. Mary Shelley fez arte e abriu caminho e espaços para quem, como eu, se recolhe e existe no texto. Não faço arte, não me vejo como artista ou algo do tipo. Percebo a mim como alguém só e angustiada e silenciosa. Viva. Estar vivo é estar só. Aproveitar todas essas angústias e dores e medos e julgamentos e tremores e traduzir em linhas, parágrafos e suas lógicas é meu vestido vermelho, minha mão dada atrás da cabeça. Não tenho nenhum final incrível ou lição ou coisa que valha. Só o dia de hoje e, talvez, amanhã. Vai saber. Muita coisa muda em 28 dias, 1 dia, da manhã pra tarde. Vou abraçar o destino e dizer que termino essa carta ao som de I wish I knew it would to be free na voz da Nina Simone, aqui.
Até a próxima segunda. :)
I wish.
Ah, escrevo e mando. Sem revisão. Respeito os erros e os atos falhos para que essa conversa seja o mais natural possível. Se é que isso é possível. Por onde estou:
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