como cheguei até aqui ou o início da análise ou guerra e paz
Pessoas,
tudo bem? vocês sabem como se sentem?
um dia qualquer, comecei a sentir uma dor imensa no peito. dor física mesmo, como se o demônio que habita em mim estivesse com muita pressa e fosse sair naquele momento. resolvi que devia fazer algo a respeito: pilates. é, sentido zero. naquele momento me pareceu bastante coerente, sabe? e foi. no meu primeiro dia, na aula experimental (sou dessas), meu peito estralou. alto o suficiente para a fisioterapeuta ouvir.
"isso é tristeza", ela disse. "eu sei", não respondi.
fiquei quase um ano no pilates e decidi que era hora de fazer algo mais ousado e me matriculei na hidroginástica. fiz boas amigas com mais de 60 anos e migrei pra pra natação, onde fiz bons inimigos com menos de 12. Parti pra musculação e, sem muito esforço, faltava mais que ia. Resolvi tentar uma personal. três meses depois, comecei a correr. também entrei no krav magá. minha rotina é: personal, corrida e krav.
e agora, análise. quatro vezes por semana.
essa jornada me deu e tirou. é. emagreci quase os muitos kilos que "queria", tinha novas e boas amigas, já tinha crushes e conseguia correr sem achar que ia morrer a cada segundo. talvez a cada km. mas continuei miserável. resolvi que era hora de fazer análise. quem nunca? bem, já tinha feito terapia antes com outras linhas e algumas quase próximas, mas nunca análise. o que me levou lá? a tristeza.
a dor física no peito não existia, mas ela estava lá. por mais que corresse, dobrasse meu corpo, levantasse peso e me exaurisse, a dor não passava. e entendi que era hora de olhar debaixo da cama e encarar o que tinha ali. pedi uma indicação e fui. durante uma hora, falei. falei. falei mais do que sabia que existia. e falando descobri que a minha dor estava tão estabelecida que para separá-la de mim seria necessária uma cirurgia.
tentei remédios. muitos. houve uma época em que tinha compridos para dormir, para acordar, para não sentir fome, para não sangrar, para ter tesão, para suportar. eram tantos remédios que poderia montar uma farmácia. naquela época, era tudo o que existia. era o certo? não sei. mas era o que podia. abandonei os remédios e fui, dia a dia, me acostumando com a ideia de que me encontraria sóbria. afinal, sempre soube quem era só que permiti que a frustração dos outros me guiasse. só.
o que não sabia, e descobri durante a análise, é que não existia A dor. existem círculos que formam meu inferno pessoal. cada qual formado por uma dor, uma ausência, uma culpa, uma perda. dores que me impediam de seguir adiante e entender o que forma o eu.
aliás, nos primeiros dias, tomei uma rasteira enorme ao perceber que estava tão ausente de mim que ao poder falar e ouvir sobre mim, comecei a gaguejar toda vez que dizia a palavra eu. toda vez. eu estava encarcerada num círculo de egoísmo de morte e ter achado um lugar que me autorizava a cuidar de mim, olhar pra mim e falar de mim me desnorteou. sabe quando a gente está no mar e vem uma onda enorme? e você percebe que ela vai quebrar na tua cabeça e tua melhor chance é mergulhar? é isso. foi naquele lugar que, sem respirar, senti a espuma e pude dizer eu.
eu.
no meu primeiro dia, saí da clínica e tomei um copo de café americano com açúcar. em silêncio. quem me conhece sabe que trabalhei duro para tomar café sem açúcar. naquele dia, não me importei ou não lembrei disso e sequer me lembro de ter sentido aquele doce. quando entrei pela primeira vez naquele lugar, achei que tinha uma ou outra coisa a resolver e poderia olhar pra frente. desde então, tenho feito o constante exercício de correr de costas. esse é um exercício cruel e necessário. a marcha reversiva é, na verdade, andar para frente de costas. isso bagunça o cérebro e faz com que ele perceba questões internas e externas de forma diferente, se reorganize e evolua.
até agora, a análise me parece isso. correr de costas. cansa mais que o normal, os buracos no chão parecem maiores, os nossos sentidos ficam inicialmente perdidos e a baderna é geral. mas, em algum momento, esse movimento ganha sentido e a gente percebe novas possibilidades de se enxergar e se relacionar com a vida. não é simples. a chance de cair é grande. mas quem nunca levantou?
para completar o processo, decidi que precisava escrever. mas não um blog. não uma retomada. uma newsletter. uma carta destinada para quem, como eu, não quer acreditar, quer saber. eu quero saber e preciso dividir. obrigada por participar disso. vejamos aonde podemos chegar.
Aleatoriedade ou Aparte ou À parte ou coisas que não rendem um textão
1. desde a última semana de setembro, tenho usado daily planner ao invés de 542 caderninhos e uma agenda e o meu celular. ajudou na organização financeira e nos compromissos de trabalho e vida. anotei algumas metas que tenho cumprido e outras que ignoro solenemente. tipo "ler um conto por dia" ou "terminar livro x". mas ele me lembra que as metas existem.
2. quero montar uma playlist pra correr e nunca chego a lugar nenhum. não sei vocês, mas do nada, inexplicavelmente, tem uma música que não ajuda na passada e a playlist se tornou uma coisa inominável. entre as que mais me deu motivou, está seven nation army do the white stripes (amor eterno). aceito indicações de músicas para o momento. mas, no geral, o que funciona pra mim, é podcast.
3. fiz um bazar com as roupas que fui perdendo ao longo do meu emagrecimento. foi uma lição de vida. durante dias, mulheres de todas os tamanhos e cores vieram à minha casa e provaram coisas que, de alguma forma, estavam ligadas à mim. tive um ganho enorme que foi muito além do dinheiro e constatei que quando criamos espaços para nós, mulheres, não há perda. ainda assimilando esse aprendizado para escrever sobre ele.
onde estou?:
melhor rede: https://twitter.com/fabrina
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ego: https://instagram.com/fabrinam/
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até mais! :)
quem quiser conversar sobre isso, é só responder ao e-mail.
sigo pensando numa periodicidade que possa ser cumprida e que tenha consistência. esse material foi escrito na noite do dia das crianças de 2016, enquanto eu ouvia/assistia ao champs, sobre a vida dos boxeadores americanos. recomendo. disponível na netflix.