Duas semanas e o mercúrio retrógrado sou eu
Oi gente, tudo bem?
Duas semanas que não mando uma carta. Duas semanas, eu acho. Talvez seja mais, menos não. Não quis contar por motivos de estou escolhendo o que lidar e ausências ocupam espaços. Nesse período recebi algumas respostas do livro que escrevi, Sabendo que és minha, e estou aprendendo a lidar com isso. É uma coisa muito louca e num nível estranho. Por exemplo, como chamar o livro? De livro apenas? Citar o nome toda vez? Enfim, vou tateando esse caminho e descobrindo como passar por isso.
Livro é uma coisa que muda a gente. Eu sei exatamente como é na posição de leitora. Mas agora, como autora, é gratificante e assustador. Já recebi mensagens, áudios e e-mails. Caso eu fizesse o que digo para as pessoas da firma – compartilhe tudo o que recebe de bom sobre o produto que você cria – talvez vendesse mais exemplares. Não sejamos hipócritas, boletos são onipresentes. Porém tem um porém enorme. É um livro sobre encontros e perdas e vida e morte e luto. As respostas são pessoais e emocionadas e confessionais. É quase como um presente que não quero – e não posso – compartilhar. Nem sei se essas palavras – pessoais, emocionadas e confessionais – cabem. Mas é que me lembro agora.
A forma como olho para escritoras também mudou. Admiro aquelas que vendem suas obras com facilidade e mostram o que está sendo dita sobre elas. Admiro mesmo, sem ironias ou espaços pra dúvidas. Gostaria de fazer isso, mas algo me impede. No caso, eu mesma. Quando se trata de auto divulgação, eu sou meu mercúrio retrógrado. Primeiro, e talvez antes de tudo, esse livro existe porque minha mãe morreu. Esse foi o ponto de partida do meu livro. Minha mãe morreu. Então tem algo nisso que não me deixa permite possibilita (escolha seu verbo) comemorar. Principalmente agora.
Em menos de um mês farei 42 anos. Eu tinha o sonho de comemorar correndo uma maratona. 1km por ano. Não rolou. Pouco antes da mãe adoecer, eu machuquei o quadril e estava em tratamento apesar da gordofobia médica. Aí a mãe adoeceu e morreu. “Ah mas tem gente que continua e vence as dores e desafios” FODA-SE. Eu não sou essa gente. Minha mãe tinha um jeito especial de dizer que eu não era todo mundo. “Até parece que você vai fazer isso que todo mundo faz”. Ela era boa em me manipular pelo ego.
Novembro começa essa agonia de ter que passar o meu aniversário e Natal e Ano novo de um jeito espetacular. Aí eu vou entrando num mar de ansiedade e de planos que, honestamente, sequer flertam com a realidade. Eu tenho pena das minhas amigas porque todo dia é um plano infalível diferente. Em 2020 já foram muitos. O que tem resistido é arrumar e pintar a casa onde moro. Também quero vender meu guarda-roupa e pegar um menor que não me permita acumular. Enfim. Tudo o que eu queria, nesse período, é saber o que sinto e o que desejo.
Mas como eu ia dizendo, duas semanas sem cartas. Duas ou mais. Vou parar por aqui. Sem links ou propagandas ou anúncios ou frases de efeito. Eu só queria dizer oi por aqui já que pessoalmente é difícil. Um dos meus trabalhos é numa fábrica e eu convivo com muitas pessoas. MUITAS. Então evito todas as outras circunstâncias sociais. Por isso, toco minha vida exatamente como era antes mas com o selo de cidadã consciente.
Ontem meu vizinho da frente fez uma festa. Ele foi discreto, você me pergunta. Não apenas o sim estava alto como ele ainda decorou toda varanda com luzes. É. Um daqueles varais hipsters de lâmpadas coloridas e som alto e carne. Assisti The Crown. Falta apenas UM episódio pra eu terminar a quarta temporada que saiu ONTEM. Eu sou meu mercúrio retrógrado. Quem mais seria, não é mesmo?
Bjs e até semana que vem
Fabrina
Ah, gente. Aconteceu.
Tem uma loja que colocou meu nome como Fábrica Martinez e a gráfica mandou as caixas para Sabrina. Carol, caso esteja vendo isso, obrigada por esse toque. Não fosse você, jamais me ligaria em colecionar esses momentos preciosos em que sou qualquer outro menos eu.