Esgotamento, enxaqueca e transantes
Oi, como está a sua timeline do Twitter ou Facebook?
Instagram não conta pois todo mundo ali é magro, feliz, culto e sem espinha. Hoje minha timeline está visivelmente triste, cansada e angustiada. Coloquei o fone para ouvir uma música enquanto conversamos, mas esqueci de escolher o som. Já venho. Então, coloquei Lenny Kravitz. Sim, pessoas. Há outro horror que assombra minha timeline que é o tesão. Outro dia uma amida me contou que uma amida dela (sempre) tem furado a quarentena SÓ pra transar. Ainda não sei se senti raiva ou inveja.
Desde quando?
Desde abril.
hm.
Abril. Em abril, eu ainda estava escrevendo o livro e em choque com a possibilidade de morrer de corona. Hoje só estou embrutecida e triste. Cada dia que o número de mortos cresce meu ombro cai um pouco mais e minha enxaqueca ou sinusite se agravam. Mas só do lado direito. Sempre a direita fudendo com tudo. Menos com os transantes. Ah, esses não. Apesar de tudo ainda não sinto falta de um relacionamento estável. Sinto a solidão e a ausência, mas não. Tem um arco de Sandman que gosto muito. Ele precisa descer até o inferno pra pegar seu elmo e tals e para sair tem todo um rolê e ele invoca a esperança. Ter esperança é difícil. Nego, nego até o fim. Mas ela está ali. Esperança de que as coisas funcionem e sejam bem melhores do que quando começamos algo com aquele desespero disfarçado na fé de "deus no comando". Não tenho a menor ideia de pra onde caminha essa conversa. Vamos retomar. Um gole de água e ajustamos a rota.
Então nessa semana, tive uma conversa com uma pessoa recém chegada na minha vida. Mesma idade que eu, experiências semelhantes e depois de debater um trabalho, ela me manda à queima roupa: você é solteira ou ainda insiste? Eu ri. Ri alto de todo subtexto que envolve o insiste. A vida é difícil quando envolve o homem hétero. Esteja ele de sapatênis ou sandália ou tênis, o resultado é o mesmo. Exaustão. Os caras chegam na relação cheio de discursos prontos e jogam suas mochilas com traumas e problemas com as mães no nosso sofá enquanto esperam pelo almoço que eles fingem que vão fazer. Qual o problema do homem com terapia, minha gente? Esse é um tema que me desgasta tanto que já estou no terceiro copo de água e ainda bem que não gosto de vinho pois ainda tenho trabalhos pra entregar hoje. Muitos.
Mas aí, tem essa conta que não fecha. Minhas timelines cheias de mulheres incríveis mas profundamente afetadas por esses tempos e falando sobre esse ser/estar só enquanto os homens são sexys e transantes e insaciáveis e apaixonados e disponíveis e trabalhados em Freud, Lacan e Jung bebericando vinho enquanto soletram patriarcado. Quem anda saindo com esses caras? Dúvida honesta. Aliás, um fenômeno que tenho notado é que meus conhecidos homens envelhecem e suas namoradas continuam com 25 anos. Quem anda saindo com esses caras? Estou rodeada de mulheres incríveis e sozinhas em muitos níveis. Minha esperança não está atrelada ao amor romântico, mas ao amor honesto.
Não acredito (hoje) que o amor romântico inclua um amor honesto. Isso faz de mim uma péssima feminista já que estou até invejando a relação de Beth e Rio em Good Girls. Péssima mesmo. Horrível. Aí eu fico pensando numa pessoa pegando esse parágrafo e tirando do contexto e dizendo "olha só, feminista mas insira aqui a possível crítica". Estou profundamente tomada por um coletivo de sensações que não sei como organizar. Por isso, vamos mudar o som. Agora vamos ouvir H.E.R. Tem essa coisa que não queria dizer mas terei que. É muito difícil ser mulher. Está muito difícil ser mulher. Não é que é difícil SER mas SER e SER MULHER. Pensar. Planejar. Lembrar. Cuidar. Resolver. Fazer. Não tem descanso, sabe? Não tem trégua. Talvez por isso minha cabeça doa tanto. Isso aparece muito nas mulheres à minha volta.
Sobrecarregadas
Esgotadas
E é assim que adentro o quinto mês de isolamento, distanciamento ou como você queira chamar. Embrutecida. Pelo vírus, pelas perdas, pelas quedas, pelas pessoas. Nem sempre dá pra ser feliz e coerente e escrever algo legal. Quando tudo se desfaz, respiro. Não sei o que tenho à frente essa semana. Mentira, sei sim. Muito trabalho. Mas emocionalmente não. Só espero que a dor continue diminuindo. Ao contrários dos demônios, não tenho esperança que ela se vá.
Até a próxima semana.
Ah, escrevo e mando. Sem revisão. Respeito os erros e os atos falhos para que essa conversa seja o mais natural possível. Se é que isso é possível.
Por onde estou:
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