Eu sou gorda.

Eu sou gorda (não é tradução, é fato)
Oi gente! A semana que passou e essa que começa são muito importantes na vida desta mulher que escreve. Acho que em 2015 ou 2016, dei uma aula (ui) numa faculdade de jornalismo a convite de um amigo muito querido e falei sobre o que entendemos do ofício da escrita. Escritora é quem escreve. Mas escreve o quê? Aonde? De qual forma estamos falando? Esse era um exercício que fazia para ME ENTENDER. Há muito tempo sustento a mim e minha vida escrevendo. Em jornais, revistas, sites e espaços corporativos. Também escrevo artigos, ensaios e resenhas. Blogs, sites, textões e a newsletter. Livro? Ainda não. Quer dizer, fiz um capítulo de livro acadêmico sobre narrativas curtas. Mas livro, meu livro, ainda não.
Foco no AINDA. Essa é a semana em que entrego o livro pronto para editoras e leitoras críticas. Passada essa fase, tem ilustração, diagramação e revisão. E então, publicação. Tem todo um processo depois de publicar, mas vamos nos manter nesse ponto. Publicação. Feito isso, serei então escritora? Ou escritora publicada? Será que minhas crises em relação à minha escrita terão passado? Mistérios. Salve a terapia!
Quando fiz mestrado em Literatura, achava estranho ouvir que as palavras tem vida. No jornalismo, a relação com as palavras é outra. Informativa, agressiva e defensiva. Existe o crush com a literatura, o que é bemmmmmm diferente de uma relação estável. Palavras são vivas e carregam coisas que são delas, nossas e de todas as outras pessoas. Tenho algumas palavras que habitam esse espaço. Luto, Maternidade, Mãe, Filha, Solidão, Escritora e GORDA.
Durante muito tempo acreditei que era isso que me definia e que não havia espaço para mim no mundo. Mas assim como as palavras, também estou viva e algumas coisas mudaram e hoje consigo falar uma frase que nunca, jamais, deveria ter sido um problema pra mim, pra você ou pra qualquer outra pessoa.
EU SOU GORDA.
Não fofinha, gordinha, bem gordinha, plus size, gordelícia e toda sorte de eufemismos ridículos. Gorda. Também sou alta, sabia? Oscilo entre full sarcástica e full pistola. Também paro tudo o que estou fazendo pra cantar Tesoura do Desejo de olhos fechados. Tipo agora. Já volto. Sou muitas coisas, mas a gordofobia me reduziu à gorda. Mulher GORDA. Mãe GORDA. Filha GORDA. Jornalista GORDA. Escritora GORDA. Eu tinha tanto medo da palavra gorda que não me permitia viver tantas outras. Como escritora, por exemplo. Existe um pacto social e coletivo para que as pessoas gordas emagreçam tão forte que nós aprendemos a ser invisíveis. Quando não conseguimos ser menores, nos esforçamos para ser nada. Isso precisa acabar. Não é sobre me amar, não é só sobre mim. É coletivo. Nenhuma maca, catraca ou cadeira vai ficar maior ou mais confortável se eu sair na rua pelada e gritar que me amo. Então, é outra coisa. É sobre existir.
No domingo, no caso ontem, dei muitos passos em direção a um lugar em que posso existir mais confortável. Lá estava eu, com o vestido que usei quando defendi minha dissertação de mestrado, mediando uma mesa sobre gordofobia, mercado literário e literatura junto da Michelle Henriques, da Jéssica Balbino e da Vana Medeiros. O link delas? Vou fazer melhor. Vou deixar o link da mesa que tem todos os dados na descrição. (Note como faço o jabá de maneira sutil. hahahah). Nossa, como eu estava nervosa e com medo e tremendo e suando em lugares que eu nem sabia que existia!
Agora que escrevi essa frase, me veio um forte questionamento de porque eu me exponho desse jeito. A verdade é que eu queria que alguém tivesse feito isso por mim e minhas amigas que também são gordas. Alguém que dissesse que é normal e esperado ficar ansiosa e nervosa e se perder e retomar o raciocínio e rir e errar e pedir desculpas e fazer tudo certo. A palavra GORDA, do jeito que nos foi imposta, devasta a nossa sanidade. Esse entendimento social da palavra gorda é uma sentença que mata todo dia um pouco. Vai tirando pedaços da vida e causa um descompasso tão grande nas pessoas gordas que nos impede de ser pessoas. É algo que precisa mudar para que possamos seguir adiante e ser o que podemos e desejamos ser. Não o que fizeram de nós.
Dito isso, vamos lá. Sou escritora porque escrevo; sou mãe porque pari; sou gorda porque meu corpo é assim; sou filha porque fui parida; sou leitora porque leio e sou muitas outras coisas. Palavras são vivas. Não é simples e nem é fácil. Mas como tudo na vida, é necessário lidar com isso. Esse espaço é o puro suco dos blogs dos anos 2000 e, por isso, a única política é não editar o texto depois de escrito. Por muitas coisas, entre elas, por ser uma conversa. Muito obrigada por conversarem comigo.
Até semana que vem!
Beijo com sabor do cajá manga do quintal da Minha Avó

Isabel Allende explica
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