Pessoas,
vocês sabem como se sentem?
alguns dias se passaram desde a primeira newsletter e tenho recebido respostas positivas e cada uma delas é como um sorriso, um café quente, um abraço, um afeto. a super dica de podcasts (que divido abaixo, não sou egoísta), uma história muito bacana sobre um movimento envolvendo a própria terapia, feedbacks no whatsapp, e muitas, mas muitas, inscrições. o que dizer de vocês além de maravilhosas? é interessante pensar que as respostas vieram de mulheres. todas elas. significativo, não?
desde então, tenho pensado no que posso dizer dessa experiência, desde como a gente romantiza e banaliza as doenças mentais em comentários como "acordei deprimida" ou "sou bipolar, sabe como é" ou "nossa, esperar ataca minha ansiedade"; sobre como lidar com a forma prática da análise (quando, quanto, como) e tantas outras nuances. mas o fato é que: sinto muito.
estou sentindo demais.
de alguma forma muito absurda, todos os meus sentimentos emergiram de maneira quase violenta. não sei se cabem exemplos mas é como se eu me tornasse um grande dedinho tombando nas quinas da casa. tudo reflete, ganha novas cores e novos significados. sinto alegria demais, dor demais, tristeza demais, raiva demais, tudo demais. algo acontece e a emoção aparece imediatamente. isso tem aparecido frequentemente com as lágrimas. quando percebo, lá estão elas. caindo, molhando meu rosto, deixando respingos na lente dos óculos. contar como eu me sinto não é a grande novidade, mas sentir o que eu sinto, sim.
SEGUE trecho racionalizando o que sinto.
a análise me deu suporte para que eu pudesse sentir. e ir além do sentimento e, a partir dele, racionalizar coisas que antes que sabia que existiam mas não sabia como precisar. a diferença entre traição e lealdade, por exemplo. e, algo que ainda não consegui lidar, a diferença entre ser sozinha e ser isolada. decidi que precisava falar sobre isso. sobre o peso que a palavra isolada ganhou e como ela está parada, diante de mim, da mesma forma que meu cachorro faz quando quer me obrigar a dar meu almoço pra ele. de maneira pacífica. é uma guerra silenciosa e cruel travada no desconforto.
essa palavra não solta sons, não se move, não se altera.
está ali, parada, me encarando. eu sei o que ela quer.
mas eu não posso, por enquanto, dar o que ela precisa.
isolada.
TERMINA trecho de racionalização.
continuo sem conseguir ler. seja um livro, seja uma bula. engraçado (podemos chamar assim) é que vivi todo esse processo de sentir demais em silêncio. eu fiz uma microcirurgia na boca e fiquei alguns dias afastada de tudo que me é meu: maternidade, trabalho, corrida, academia, diálogos. foram três dias em casa, tomando açaí gelado e assistindo filmes e séries asiáticas na netflix.
eu me dou muitas coisas, desde que não as queira de verdade. comecei a correr e desejei um determinado tênis. comprei outros. publicaram um livro da minha autora da vida e ele custa menos de trinta reais. não. mas eu posso comprar aquela bolsa que me nada se parece comigo. eu andei correndo demais de mim. e olhar a forma cruel e mesquinha como tenho me tratado é assustadora. ter que reconhecer que abracei o discurso dos outros que me diziam que eu sou uma mulher difícil demais para ser amada me quebrou.
e o mundo não parou para que eu pudesse recolher meus cacos.
eu amo red hot chilli peppers. sei todas as músicas e nunca, jamais, never, ever, tive qualquer coisa deles. by the way, não me permiti sequer uma playlist no deezer ou spotify. e é impressionante como tenho que dizer que "sei todas as músicas" para justificar meu amor por eles. tenho mesmo? tenho que? o que você não tem que mas faz sempre?
push the trigger and pull the thread.
eu tenho chorado demais. muito mesmo. e não consigo parar e talvez seja esse o caminho.
talvez seja.
pequenas recomendações ou divisão de sentidos
escrito em períodos diversos, quase sempre em estado de lágrimas ou euforia seca. Quase sempre ouvindo rhcp. em especial, ao som de the zephyr song. o trecho "i fell it more than ever" resume tudo. Não revisei. Nada. Acredito que se fizesse isso o sentido e a falta dele se perderiam e não há erros que sejam errados. Nada é mais honesto que um ato falho.
a dica da Grazih (<3): https://gimletmedia.com/
uma central de podcast. testo amanhã quando volto pra corrida.
amanhã eu volto pra corrida. na terça para a academia e no sábado seguinte para o krav.
sinto falta do suor, do movimento, da dor, das pequenas vitórias.
volto com o tênis que desejei. com o livro da minha autora favorito lido.
quem quiser conversar sobre isso, é só responder ao e-mail.
é bom saber que você existe.
sigo pensando numa periodicidade que possa ser cumprida e que tenha consistência. sinto que preciso avisar que a bad se anuncia. tenho falado sobre como a minha relação com os homens sempre foi guiada pela violência deles contra mim. e existem momentos em que isso me desmonta completamente. não tem jeito bonito de tratar isso. assumir que a gente subestima o ódio que os homens sentem pelas mulheres é o primeiro passo da cura ou constatação da realidade?
afinal, qual o motivo para generalizar a pergunta quando isso é sobre mim?
I don't ever wanna feel
Like I did that day
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