sobre ataques de ansiedade e a capacidade de se refazer internamente
pessoas, vocês sabem como se sentem?
recebi muitas respostas e não consigo saber o que fazer com elas. É engraçado porque cada uma delas chegou num momento tão apropriado que não consegui lidar. talvez vocês queiram saber mas, pela primeira vez, falei de todas vocês (sim, somos todas mulheres) para minha terapeuta. e falei de cada resposta que recebi e de como, cada uma delas, me deu um pouco de alento quando a bad me abraçava. de como cada inscrição era um "oi, quero te ouvir" que, de certa forma, me assustava.
a semana que passou foi particularmente difícil. ela me trouxe a notícia que estou desempregada. não foi uma coisa simples e fácil e higiênica como uma demissão. envolveu uma série de sentimentos que me levaram a um ataque de ansiedade. não durante, mas depois da notícia. eu não conseguia respirar. meu peito parecia querer quebrar de dentro pra fora, de fora pra dentro. e em sentidos que eu não sabia que tinha. eu sou uma pessoa constantemente ansiosa, estou sempre sofrendo com o futuro. mas, naquele momento, eu descobri o que era sentir um ataque de ansiedade.
eu permiti a emoção. permiti que o coração se encolhesse e aumentasse, que o ar faltasse, que a visão sumisse. eu permiti me permiti sentir aquela dor. e senti cada pulso dela, cada vontade de vomitar, cada qualquer coisa que não sei nomear. eu apenas senti. e pedi ajuda. uma amiga me levantou os braços, me disse frases simples e poderosas e cuidou de mim enquanto outra amiga vinha me buscar para me levar para casa. ela me deu carona, café, ombro, ouvidos e suporte. e assim tem sido desde então. amigas. mulheres que me recebem e dizem que estão ali por mim.
crises de ansiedade são coisas estranhas. elas te sequestram de si mesma e te levam para lugares sombrios e vazios. te levar para o inferno pessoal onde você precisa lidar com seus medos mais irracionais: ser possuída pelo demônio, ser abduzida por alienígenas, estar num trem descarrilado, passar por pontes e acabar na miséria. naquele mesmo dia, de tarde, eu entrei na sala da minha terapeuta e chorei. falei da crise de ansiedade, de que tudo estava se perdendo e de como os dias prometiam ser sombrios. eu falei. e senti.
eu me permiti sentir a dor.
eu me permiti chorar.
eu me permiti ser uma pessoa.
eu me permiti.
e aprendi que nenhum dos meus medos são irracionais e que todos representam algo pelo qual estou passando no momento. toda mãe sabe que ficar sem seu filho pode ser um trem que descarrila. e que abrir mão de quem se é, em função de outros ou de um relacionamento, é uma abdução. e, desde então, dia a dia, fui aprendendo quais são os meus medos e como conviver com eles. eles continuam existindo mas não me impedem de ser quem eu sou, desde que eu seja. que eu me permita.
junto a esse período louco, eu voltei a correr. e, no primeiro dia em que voltei pra corrida, algo assustador aconteceu. algo para o qual eu não estava preparada. eu fui bem. MUITO BEM. e isso acabou comigo. corri os primeiros momentos junto com o grupo. era um caminho novo e que poderia chegar num ponto da cidade que me incomoda muito. muito mesmo. e soube que pegaríamos uma descida e sequer passaríamos por aquele ponto nevrálgico. respirei fundo e pensei: e se eu ouvir o meu corpo? e se eu fizer o meu caminho? e seu simplesmente fizer o que eu posso fazer?
eu fiz isso e peguei embalo na descida. e olhei para a subida e pensei: e se eu tentar? e se eu simplesmente colocar um pé na frente do outro, inclinar o corpo e for? e seu eu simplesmente fizer? e eu fiz isso e fui. o cansaço veio mas é normal, certo? eu fiz isso e no meio da subida, eu olhei para trás. e vi dois blocos de pessoas. gente mais magra que eu, gente que corre mais tempo que eu, a instrutora, gente que está mais tempo nessa que eu. olhei para a subida e pensei: estou em primeiro e estou bem. eu sou gorda, estou em primeiro e estou bem. eu não corro tanto quanto elas, estou em primeiro e estou bem. estou numa subida, estou em primeiro e estou bem. há dois anos atrás, eu subi esse rua com a minha filha, andando, e eu senti muitas dores. eu mal conseguia respirar. e agora, eu estou correndo aqui e estou bem.
isso está errado pra cacete.
e tive outro ataque de ansiedade. imediatamente, minhas pernas se tornaram mais pesadas do que elas são e eu comecei a pensar nos gurus do empreendedorismo de palco e no que aprendi trabalhando em RH: "foque no que você pode fazer, no que você tem controle". e eu não conseguia. eu simplesmente não conseguia mais me controlar. eu pensava que não devia estar ali, que deveria estar em busca de um emprego, que correr daquela forma e estar bem é uma afronta. que aquele não era meu lugar. que ficar em primeiro, ainda que por uns segundos, não era meu direito. e quando nós estávamos finalmente numa rua plana, eu vi uma a uma das meninas me ultrapassando enquanto eu caminhava e eu pensei: é isso o que eu faço na minha vida. todos os dias. e então eu não me permiti chorar. fiquei conversando internamente com a minha terapeuta. imaginando o que ela me diria. na verdade, o que ela me dirá sobre isso.
mas eu resolvi falar com vocês antes. eu só a verei na terça.
acordei ansiosa hoje e mal consigo respirar. fiz café, coloquei um filme, e vim para o escritório atualizar meu linkedin. pensei que talvez ele não é para mim. não por ser uma rede para pessoas super e blablablá, mas por ser uma rede sem conexão emocional. que se havia uma rede que eu devia acionar era vocês e apenas para dizer: obrigada. na semana que passou, quando nada parecia estar bem, vocês me ajudaram a ficar de pé. peguem esse abraço.
essa é uma edição extraordinária de uma newsletter sem periodicidade definida. e eu interrompo aqui pela realidade. Isa acordou e vamos tomar café da manhã juntas enquanto assistimos cavaleiros do zodíaco. aqui em casa temos dessas coisas. sigo a regra de escrever e não ler depois. obrigada.
onde estou?
melhor rede: https://twitter.com/fabrina
outra rede: https://facebook.com/profile.php?id=100004273335672
ego: https://instagram.com/fabrinam/
projeto de vida: https://facebook.com/eumaes2/
até mais! :)
quem quiser conversar sobre isso, é só responder ao e-mail.
(eu falei com a minha terapeuta sobre não saber o que responder e ela disse que aprender a receber afeto é uma das razões pelas quais estou lá. eu recebi. e é ótimo saber que você existe).
sigo pensando numa periodicidade que possa ser cumprida e que tenha consistência. esse agradecimento foi escrito na manhã do último domingo de outubro de 2016, enquanto rodava o filme o exorcista. recomendo. disponível no youtube.