Sobre freiras e trabalho em equipe

Depois de algum tempo, acho que vocês perceberam que sou uma pessoa ressentida. Penso demais, sinto demais, analiso demais e vivo ok com isso. Não por gostar, mas por ter aprendido. Quanto menos a gente convive com as pessoas, menos dolorido fica. No começo da pandemia, levei isso pra análise porque o distanciamento social evidenciou o quanto eu já estava isolada. Não houve um grande baque ou uma grande perda inicial. Houve, inclusive, um certo conforto porque agora as pessoas vivem uma realidade muito próxima da minha. Notem o grau.
Estou aqui escrevendo de frente para a janela e com o barulho apenas do ventilador e da máquina de lavar. Eventualmente ouço meus vizinhos ou os cachorros que passam na rua. Mas nada tão alto ou presente quanto o ventilador e o teclado. Notem a volta que estou dando mas prometo que vai fazer sentido. Aí, quando comecei a escrever essa newsletter, lembrei de uma experiência que tive no colégio de freiras que estudei. Não lembro o que me aconteceu que um dia descobri que estava no grupo de umas gurias pra um trabalho de geografia. Minha lembrança é de ter levado um perdido no dia que nos encontraríamos na Biblioteca Municipal para fazermos os trabalhos e depois delas me cercando e dizendo que eu não fiz a minha parte e Regina George me dizendo pra parar de tentar fazer o grupo acontecer pq nunca ia acontecer. O que eu fiz? Isso mesmo. Chorei. Os anos seguintes não foram melhores. Talvez por isso eu tenha tomado a decisão de fazer tudo sozinha, sempre. Claro que não foi apenas por isso, mas está no contexto.

Desde então, faço tudo o que posso e não posso sozinha. Em todos os setores da minha vida. Até o dia em que entrei no banho e acordei um tempo depois no chão com água caindo e a parte de trás da cabeça doendo da pancada. Bem, isso tem uns dois meses eu acho. Aconteceu depois de muitas perdas e mudanças e pandemia, na primeira noite em que minha filha passou com o pai depois de meses de isolamento. Foi algo que me assustou bastante porque desmaiar sozinha em casa era só mais uma coisa na lista de coisas que eu fazia ou aconteciam quando estava sozinha. Desde então, venho me abrindo para as minhas limitações. Ninguém consegue educar uma filha sozinha, entregar projetos profissionais e pessoais sozinha, sustentar uma casa sozinha, escrever um livro sozinha, cuidar de uma cã idosa sozinha e manter uma casa organizada sozinha. Ao mesmo tempo. Ora priorizando uma ou outra coisa. Ninguém consegue.
Depois desse momento de entendimento óbvio, comecei a procurar por suporte em diversas coisas. Entre elas, minhas redes sociais. Desde a semana passada, a Michelle tem me dado suporte na atualização. Ainda sou eu, de alguma forma, criando o conteúdo e ela postando e administrando isso. Esse era um tema que estava na pauta da minha análise há mais ou menos um ano A.P. (antes da pandemia) e eu sempre fugia por achar que era meu dever moral ser capaz. Ser capaz de entregar tudo isso e ainda ver televisão e fazer carinho na barriga de Beroka enquanto a adolescente me ignora. Não vai acontecer. Nem comigo ou outras pessoas. Não é pessoal. Aí que tenho incluído pessoas (uma por vez pois resistente) na minha vida junto com coragem e honestidade para dizer: eu não dou conta sozinha.
No meio disso tudo, estou trabalhando para aprender que o que as pessoas pensam de mim é problema delas. Problema meu, só meu nesse momento, é caminhar pra fora desse isolamento consciente de que tudo bem pedir ajuda para, entre outras coisas, conversar com mais honestidade e leveza com vocês. Obrigada gente! E bem-vinda Michelle :*
Ah, escrevo e mando. Sem revisão. Respeito os erros e os atos falhos para que essa conversa seja o mais natural possível. Se é que isso é possível. Por onde estou:
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