Toque de recolher e a falta de ar de quem morre na sozinha na sexta

Agora temos um banner, ainda que temporário.
Oi.
Dois ventiladores ligados. Um no meu rosto e outro nas minhas costas. Para que seja suportável existir. Fico me perguntando o quanto estou piorando o problema com essa atitude. 1% de chance de chuva. O ar está tão seco que ele entra nas minhas narinas deixando um rastro de poeira e sentimentos confusos que também são causados por músicas como Woman in Chains, lembra? Fiz um conto que divido contigo ali embaixo. Não sou boa de contos. Não estou me fazendo. É só um fato, sabe? Estudei MUITO o gênero para saber que não é para mim. Eu gosto do silêncio das pessoas em novelas e em romances. Gosto de poucas pessoas vivendo muitas coisas em poucas páginas ou das pessoas sofrendo muitas coisas em muitas páginas. Romance tem essa coisa de me deixar afundar nos pensamentos das personagens a ponto de não saber o que exatamente aconteceu mas ter entendido como aquilo que aconteceu afetou aquela pessoa. Foi uma semana bem pesada sabe? Nem 18h e meus olhos estão fechando. Muita coisa aconteceu e nada aconteceu. Começou a tocar U2. Ouvia quando jovem. Retrato da cretina quando jovem.
Minha língua está machucada. Não é metáfora. É um fato. Tem um corte enorme no lado esquerdo. Dói bastante e tenho evitado falar também. Dói de um jeito diferente. Gosto como o U2 sobe as músicas. Ou subia. Não ouço nada de novo há muito tempo. Em vários sentidos e de várias pessoas. Sobre o corte na minha língua. Eu achei que fosse morrer. Sexta-feira pensei que fosse morrer. Sozinha. Tinha acabado de assistir Boys in the Band e decidi ir pro quarto dormir. Foi a primeira vez que fiquei sozinha em casa desde janeiro desse ano. Quando levantei alguma coisa aconteceu. No meu coração, no meu estômago. "Vou tatuar a capa do meu livro ali". Fechei os olhos mas eles estavam abertos. Faltou ar. Faltou.
Em Who's gonna ride your wilde horses tem um momento em que a música meio que entrega a dor. É como se fosse um caminhada pelo corredor de uma casa, batendo as paredes e pensando que sim, eu vou morrer aqui. Sozinha. Sozinha. Há quanto tempo estou sozinha? Sozinha. Segue esse longo corredor com alguns azulejos que estufaram e quebraram. Quero arrumar mas não quero um homem estranho em casa. Pandemia. O Átila disse que podemos sair com cuidado. O que é cuidado? Quem cuida de quem? Cuida. Li no Think Olga que 9 em cada 10 mães mudaram suas rotinas com a pandemia e 84% tiveram suas rendas diminuídas. Mães são as pessoas mais afetadas em qualquer mudança, independente do tamanho. Meus olhos estão fechando mas o vento dos ventiladores já chega frio. Coloquei Dynamite.
Dynanana-nanananana-nanana, life is dynamite
Dinamite pode ser nitroglicerina com pó de conchas. Explosão não é feita só de fogo. Atravessar o corredor com essa dor e esse peso. Tirar a roupa e gritar. Isso. Gritar. Eu vou morrer. Sozinha. A gente morre tão sozinha quanto se nasce. Nem sempre quando nasce uma filha nasce uma mãe. Toda uma questão. Esquecer onde fica a luz do banheiro e se debater até vomitar. Sofrer para evitar o que melhor para você. "Não precisa morrer pra ver Deus". Morrer sem ver Deus e acordar algum tempo depois no box. Sozinha. Eu não morri. Sozinha. Ainda. Cansaço. Li no Think Olga que 9 em cada 10 mães mudaram suas rotinas com a pandemia e 84% tiveram suas rendas diminuídas. Mães são as pessoas mais afetadas em qualquer mudança, independente do tamanho. Meus olhos estão fechando, o vento dos ventiladores já chega frio e minha coluna vibra. Ninguém cuida de quem cuida. Ninguém. Tem um corte enorme na minha língua, uma mancha roxa na testa que me obrigou a usar BB Cream nesse calor e sono. O sono não passa. Uma mulher longe da filha é só uma mulher que dorme.
Essa é a capa do meu livro de estréia e eu estou em chamas por ela ser pública agora <3
Sabendo que és minha está em pré-venda aqui

Ah, escrevo e mando. Sem revisão. Respeito os erros e os atos falhos para que essa conversa seja o mais natural possível. Se é que isso é possível. Por onde estou:
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